Conto de fadas volta com 'A Polergarzinha'
ELAINE GUERINI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE DUBLIN
Don Bluth, 57, nunca escondeu sua intenção de seguir os passos de Walt Disney. Em seu último trabalho, que estréia hoje na cidade, o diretor americano vai mais longe e propõe um "revival" da animação clássica ao apresentar um conto de fadas tradicional, na linha de "Branca de Neve" e "A Bela Adormecida".
Desta vez, a mocinha da história –aquela que encontra o príncipe dos seus sonhos e vive feliz para sempre– é "A Polegarzinha" (Thumbelina), uma garota frágil do tamanho de um dedo polegar.
O novo filme, baseado na obra de Hans Christian Andersen, corre o risco de decepcionar o público do diretor, que se acostumou com histórias menos previsíveis, como "A Ratinha Valente", "Fievel, Um Conto Americano" e "Todos os Cães Merecem o Céu".
Bluth, no entanto, justifica a escolha dizendo que chegou a hora de investir nos filmes com "apelo para toda a família".
Em entrevista exclusiva à Folha, concedida em seu escritório em Dublin, na Irlanda, o diretor falou sobre "A Polegarzinha" e curiosidades do filme –uma delas é que seis animadores brasileiros participaram da produção (leia texto abaixo).
Ele fica em Dublin até o final deste mês para concluir mais um de seus filmes: "The Pebble and the Penguin", com previsão de estréia para março de 95 nos EUA.
Antes dele, porém, entra em cartaz "A Troll In Central Park", outra produção de Bluth (sempre em parceria com Gary Goldman e John Pomeroy). A estréia está prevista para novembro próximo. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - "A Polegarzinha" é o seu primeiro desenho inspirado em um conto de fadas tradicional. Por que você resolveu adaptar uma história de amor?
Don Bluth - As histórias de amor são as mais gostosas de contar. Mas "A Polegarzinha" é mais que uma história de amor.
O conto de Hans Christian Andersen, que sempre foi um dos meus autores favoritos, trata dos conflitos internos das pessoas. A protagonista da história tem os seus limites e precisa superá-los.
Como ela é pequena demais e tem pouca experiência de vida, o mundo para ela é um grande desafio. Nesse sentido, "A Polegarzinha" é aquele tipo de história com apelo para toda a família. E era exatamente isso que nós estávamos procurando.
Linda capa da VHS nacional, de 1995
Folha - A estrutura narrativa do filme lembra alguns clássicos da Disney. Você acha possível reviver a magia daqueles tempos nos dias de hoje?
Bluth - A idéia de reviver o estilo clássico da animação sempre me agradou. Eu considero perfeitamente possível fazer filmes como aqueles de novo. Acho que eles ficaram tão famosos por conseguirem refletir a vida real e mostrar como as pessoas são.
A beleza desses filmes está no fato de que eles sempre trazem esperança para o público. As pessoas saem do cinema com a impressão de que tudo vai dar certo.
Folha - Na obra original, Polegarzinha conhece o príncipe Cornelius no final da história. Por que você trouxe o príncipe para o começo do filme?
Bluth - Quando li o livro pela primeira vez, não gostei. Na minha opinião, ela levava muito tempo para conhecer o príncipe. Então, resolvi mudar.
No filme, Polegarzinha o encontra no começo, se apaixona por ele, o perde e depois precisa trabalhar duro para reencontrá-lo. Nessa direção, acho que a história caminha melhor e abre espaço para a nossa mensagem.
A personagem nos ensina que não importa se você não é grande o suficiente, não é bom o suficiente. Tudo o que você precisa fazer é seguir o seu coração. Só ele pode mostrar o que é melhor para você.
Folha - A história vai atrair também o público adulto?
Bluth - Acho que os adultos vão se identificar com a história porque todo mundo tem ou teve problemas parecidos com os de Polegarzinha. No filme, ela tem várias oportunidades para se casar e cada uma delas por uma razão diferente.
Primeiro, ela tem a chance de se casar com um sapo e ficar famosa. Depois, com um besouro, que a adoraria pelo resto da vida por sua beleza. E, por fim, ela tem a oportunidade de ficar rica casando-se com uma topeira.
Felizmente, ela percebe que essas são razões erradas para se casar e resolve ir atrás do príncipe, a pessoa que ela ama de verdade. Na vida real, conheço muitos homens e mulheres que passaram por situações parecidas e acabaram se casando por razões erradas.
Folha - Como você classifica o momento atual da animação?
Bluth - Na verdade, acho que estamos vivendo uma nova era na animação, um renascimento. Acho que podemos considerar esse período uma segunda era de ouro.
Estúdios como o nosso, a Disney, a Fox e a Universal (Amblimation, de Steven Spielberg) têm desenvolvido um belo trabalho neste sentido. A animação nunca foi tão popular como agora.
Folha - E quanto ao avanço tecnológico. Até que ponto os computadores podem roubar o espaço dos artistas?
Bluth - Da maneira como a tecnologia vem caminhando, coisas maravilhosas vêm acontecendo. Os computadores fazem coisas incríveis. Mas eles nunca vão substituir os artistas.
Folha – Alguns animadores brasileiros atuaram em "A Polegarzinha". Três deles vão te acompanhar até os EUA. Como você classifica o trabalho deles?
Bluth – Eu acho que os brasileiros que trabalham conosco estão entre os animadores mais fortes que nós temos no estúdio. Eles vieram para Dublin sem conhecer ninguém e praticamente sem saber nada de inglês e são realmente fabulosos.